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Toda a gente que me conhece um pouco sabe que eu não gosto de comidas misturadas, jardineiras, massadas e arrozes. Não gosto de arroz de carne, detesto cabidelas e não é pelo sangue é mesmo por estar tudo misturado e também não gosto de arroz de coelho, que a minha avó fazia vezes sem conta para deleite da maioria da família sendo eu a excepção. Na família do meu marido também todos gostam de cabidelas, arrozes e afins, continuando eu a ser a ovelha negra...
Mas hoje fiz arroz de coelho para o jantar, e comi... e não foi porque eu quisesse fazê-lo, proporcionou-se pela falta de tempo que é uma coisa lixada.
De manhã ao sair de casa temperei o coelho para assar no forno, ou pelo menos essa era a minha intenção, acontece que a minha mãe foi hospitalizada para uma pequena cirurgia, que correu bem felizmente, e eu fui vê-la ao hospital depois de sair do trabalho.
Cheguei a casa tarde e o coelho em vez de ir para o forno foi para o tacho, mais precisamente para a panela de pressão para ser mais rápido, tentei pensar num acompanhamento, mas nada me ocorria, entretanto ao abrir a panela para rectificar a cozedura do bicho deparei-me com uma enorme "sopa" de caldo, culpa minha é claro, que, por desatenção ou por pressa, acrescentei demasiada água na panela que sendo de pressão ainda acrescentou mais alguma do vapor.
Naquele momento pensei que não havia nada a fazer e o melhor era fazer um arroz naquele caldo, passando da ideia à acção de imediato que eram 10h da noite e a fome já se fazia sentir.
O meu marido entretanto pergunta-me o que é o jantar e antes de eu responder olhou para dentro da panela e com o ar mais infeliz do mundo e de voz quase sumida diz-me: Tu não sabes que eu não gosto de arroz de coelho?
Ops! ... ... Fez-se silêncio! Não me ocorreu, disse-lhe, mas agora é o que temos e como eu também não gosto de arroz de coelho, comemos e pronto! Se isto fosse no tempo da minha bisavó tenho a certeza que a coisa ficaria feia, se é que me entendem...
Foi assim que os dois nos sentamos à mesa, no mais profundo dos silêncios e com o ar mais infeliz do mundo.
À primeira garfada o semblante mudou, à segunda o ar era de satisfação e no final não sobrou um grão de arroz.
Mas cá entre nós que ninguém nos ouve não contem isto a ninguém, para todos os efeitos e perante toda a família: Nós não gostamos de arroz de coelho.
Esta foi uma excepção que conto repetir num destes dias, e na nossa opinião estava perfeito. (shiuuuuu! É segredo!)
Mas para que fique bem claro e não restem dúvidas eu continuo a não gostar de comida misturada e se alguém disser o contrário, mesmo que apresente provas, eu faço como os políticos e nego tudo.
Arroz de Coelho
Ingredientes:
Preparação:
Temperar o coelho com o sal, o louro, o alho, o tomilho, o colorau, o vinho branco e uma colher de sopa de azeite, deixar assim um bom par de horas.
Na panela de pressão colocar 2 colheres de sopa de azeite e alourar o coelho por todos os lados, adicionar a cebola cortada em gomos finos, mexer e juntar o líquido da marinada coado. Nesta altura devo ter junto cerca de um copo de água. Fechar a panela e deixar cozer por cerca de 15 a 20 minutos.
Deixar sair o vapor antes de abrir a panela, nunca é demais lembrar que enquanto se ouvir barulho do vapor a sair da panela não se pode abrir para não correr o risco de uma queimadura grave.
Retirar o coelho para um prato e reservar, acrescentar os cogumelos, o arroz e 2 copos de água ou um pouquinho mais para o arroz cozer e ficar ligeiramente caldoso, rectificar o sal e assim que o arroz estiver cozido servir de imediato para não empapar.
Notas: Usei uma mistura de cogumelos congelados marca continente, muito bons por sinal. O arroz é da região de Alcácer do Sal, marca Ceifeira, usei agulha extra longo, experimentem porque é um arroz excepcional, quer o agulha quer o carolino.
A minha colega B. foi a Trás-os-Montes e trouxe-me flor de carqueja, e eu para além de beber o chá utilizei-o para cozinhar, o resultado foi surpreendente.
A carqueja é um pequeno arbusto aromático, com flores amarelo torrado e cujas folhas têm propriedades medicinais, em Portugal cresce espontaneamente em terrenos secos.
A carqueja também é largamente conhecida na América Latina, nomeadamente no Brasil e no Perú.
Coelho com Chá de Flor de Carqueja
Ingredientes:
Preparação:
Aloure o coelho num fio de azeite, adicione a cebola bem picada, a folha de louro e o chá de flor de carqueja, tempere com o sal aromatixado e o piri-piri e deixe cozinhar até a carne ficar macia, se necessário adicione um pouco de água ou mais chá.
Se usar a panela de pressão são cerca de 20 minutos.
Sirva acompanhado de espinafres salteados em azeite e alho e arroz ou puré de batata.
Hoje resolvi viajar de novo no tempo e regressar de novo à era medieval para fazer mais uma receita completamente diferente do que estamos habituados.
Segui a receita quase à risca, à excepção do primeiro passo que por o ter acho estranho improvisei, de qualquer das formas aqui não estou obrigada a nenhum rigor histórico.
A pesquisa que fiz há bastante tempo atrás deu-me um enorme prazer e uma quantidade de receitas que sempre que o tempo me permitir serão testadas e postas por aqui.
A origem desta receita remonta à Inglaterra do séc. XIV, é relativamente simples, mas de sabor exótico, a receita original e a tradução para inglês dos nossos tempos está aqui. Mas, para aqueles que só agora visitam o Tertúlia de Sabores, podem sempre espreitar em gastronomia medieval as outras receitas que testei faz um tempo.
Aqui fica a minha versão ligeiramente modernizada de mais uma iguaria medieval, posso dizer que fica muito bom, principalmente para quem gosta de sabores agri-doces.
Coelho em Molho de Vinho Doce e Passas de Uva
(Connynges in Cyrip)
Ingredientes:
Preparação:
A receita manda cozer o coelho em caldo de carne, eu abdiquei dessa parte e alourei-o num fio de azeite, adicionei todos os restantes ingredientes e deixei cozinhar tapado em lume muito brando durante uns 40 minutos, virando o coelho de vez em quando para todo ele tomar sabor, se o molho evaporar rápidamente e o coelho ainda não estiver cozido adicione uns borrifos de água.
Acompanhei com arroz branco, e legumes cozidos. Se quiser, apesar de não ser de todo medieval, também deve acompanhar bem com um puré de batata ou umas batatinhas fritas.
Nota: Como já disse anteriormente quando abordei este assunto , nenhuma das receitas medievais têm quantidades, por isso é necessária alguma imaginação para que os sabores fiquem equilibrados. As quantidades desta e das outras receitas foram calculadas por mim e não quer dizer que sejam as certas.
Esta não é uma mistura frequente, costumamos associar mais a carne de porco às amêijoas , no entanto fica bastante saborosa.
Coelho Frito com Amêijoas
Ingredientes:
Preparação:
Tempere o coelho partido com, alho, louro, pimentão doce, sal e pimenta e um pouco de cerveja. Deixe a ganhar sabor por um par de horas.
Escorra bem o coelho, se necessário seque-o com papel de cozinha e guarde a marinada.
Frite o coelho em quatro ou cinco colheres de sopa de azeite até ganhar um pouco de cor.
Passe a marinada por um passador e regue o coelho com ela, acrescente a restante cerveja e deixe cozer.
Quando o coelho estiver cozido se ainda tiver muito molho leve a lume forte para evaporar e apurar, acrescente as amêijoas para abrir, polvilhe com um pouco de coentros picados e sirva de imediato.
Sirva com batata frita ou arroz branco e salada de alface com agriões ou rúcula .
Há uns tempos atrás estivemos na Pousada de Beja e resolvemos jantar por lá, porque na ementa havia um prato que desde logo nos chamou a atenção. Era então um coelho assado no forno, durante 4 horas (a 100º), com alecrim.
O prato era simplesmente divino, por isso afinei o paladar para o poder recriar em casa, para além de bastante alho, o bicho tinha um leve travo a castanhas cozidas por isso deito-lhe um "cheirinho" de erva-doce.
Confesso que a minha receita não fica tão boa como a do Chef da Pousada, mas consegui chegar a algo parecido.
Coelho Assado com Alecrim e Erva Doce
Ingredientes:
Preparação:
Tempera-se o coelho com todos os ingredientes, e deixa-se repousar durante uma noite, ou pelo menos meio dia. Leva-se ao forno a uma temperatura de 100º durante 4 horas. Vai-se virando e regando com a vinha de alhos.
Serve-se com puré de batata e uma salada verde.