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Naquele tempo as fadas transformavam as abóboras em lindas carruagens e a gata borralheira casava com um príncipe charmoso que percorrera o seu reino com um sapatinho de cristal na mão, mas os tempos mudaram a tradição já não é o que era e todos sabemos que as fadas não existem.
Na minha história a gata borralheira vive nos subúrbios da capital, passa a maior parte do tempo a sonhar com o tal príncipe mas continua a cozinhar para ganhar a vida, que as coisas não caem do céu e ela não tem com quem dividir as despesas.
Passa dias na cozinha a fazer pastéis e empadas que coze logo pela manhã, depois sai de casa para os distribuir pelos cafés das redondezas onde são devorados por gente desconhecida, entre golos de café e conversas perdidas sobre o tempo, a crise ou coscuvilhices de vizinhas.
Há muito que perdeu a esperança de um dia ser alguém. A sua vida é rotineira, às vezes sem graça, não tem muitos amigos e o príncipe encantado nunca chegou a aparecer, nem tão pouco alguém que a fizesse feliz.
Vai sendo feliz à sua maneira, quando, para fugir à rotina, experimenta novas receitas e diz quem a conhece que cozinha com amor.
O amor...
Aquele sentimento que tanto a faz sonhar mas que nunca chegou a sentir.
Às vezes escolhe receitas a pensar no seu príncipe, imagina os seus gostos...
Se ele ao menos aparecesse...
Seria decerto pela boca que o iria cativar, porque na sua beleza já ninguém reparava, felizmente herdara o dom da madrinha, para quem a cozinha não tinha segredos.
As suas refeições eram simples e na maioria das vezes utilizava apenas os produtos que cultivava nas traseiras da casa que tinha herdado da madrinha, mas hoje era o seu aniversário e por isso tinha comprado um pedaço de queijo da ilha, daquele cujo sabor forte perdurava na língua com um leve picante que tanto lhe agradava. Imaginou o contraste que faria com a abóbora que tinha aberto dias antes e atreveu-se a fazer um soufflé de textura suave como os sonhos e de sabor forte como imaginava que fosse o amor.
Levou a primeira garfada à boca, bebeu um pouco de vinho e continuou a sonhar.
Soufflé de Queijo da Ilha com Abóbora Assada
Ingredientes:
Preparação:
Limpar um bom pedaço de abóbora, retirando cascas e sementes e cortar às fatias. Colocar num prato de ir ao forno, temperar com sal aromatizado com picante e um fio de azeite e levar a assar por uns 30 minutos ou até estar macio. Deixar arrefecer, escorrer bem a água que se formou e esmagar a abóbora juntamente com o alho confitado com um garfo. (se não tiver alho confitado pode assar um dente de alho juntamente com a abóbora)
Misturar a abóbora com o molho branco e as gemas de ovo e acrescentar o queijo ralado. Se necessário rectifique os temperos.
Bater as claras em castelo e envolver suavemente com a mistura de abóbora.
Levar ao forno quente a 220º, em formas bem untadas, passados os primeiros 5 ou 10 minutos baixe a temperatura para os 180º, e deixe cozer mais 10 a 15 minutos. Servir simples como entrada, ou se preferir como acompanhamento de carnes.
Notas: A abóbora pode ser estufada em vez de assada, molho branco ou bechamel pode ser caseiro ou de compra e o queijo deve ser forte para contrastar com o doce da abóbora.
O resultado é um soufflé de sabor forte e picante, com o qual participo no passatempo "Chocolate e Picante: Um desafio de receitas com histórias dentro" promovido pelo Gourmets Amadores em conjunto Casa das Letras do grupo Leya.