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Já referi por diversas vezes aqui no blog o quanto gosto de fazer pão, por isso não poderia deixar de vos contar as minhas últimas aventuras.
Desde há muito tempo que sou eu que faço o pão que se come cá por casa, e desde há muito que ambicionava fazer pão sem recurso a qualquer fermento químico.
Os Ingleses chamam-lhe "Sourdough", os Espanhóis chamam-lhe "Masa Madre", por cá penso que o nome correcto será isco, corrijam-me os experts que eu sou uma aprendiz nestas lides, certo é, que com ele podemos fazer pão a partir apenas de farinha e água.
A primeira vez que li sobre este processo foi no blog de Iban Yarza, já lá vão alguns anos, fiquei com um bichinho para experimentar, mas foi-me sempre faltando a coragem para dar o primeiro passo, entretanto o ano passado surgiu um novo blog, o Zine de Pão que fala da essência do pão, escrito em português, aliás muito bem escrito e o bichinho aumentou, fiz as primeiras experiências mas não obtive sucesso, por algum motivo a coisa não correu bem e eu esqueci-me do assunto.
Entretanto há umas semanas atrás apareceu a Ana e eu voltei a ler sobre este assunto no blog dela e resolvi pôr mãos à obra, mais uma vez não obtive sucesso, mas desta vez não desisti e recomecei tudo de novo.
Parece-me que desta vez a chave do sucesso, esteve no uso de água engarrafada, e talvez pelo facto de ter iniciado o isco com farinhas integrais quer de trigo, quer de centeio.
Percebi que não há regras precisas, mas é fundamental ter muita paciência e perseverança e no meu caso foram muito importantes as explicações e o apoio incondicional do Paulo, da Ana e também da Tânia entre outros amigos blogueiros.
Há sempre uma primeira vez para tudo e esta foi a primeira vez que fiz pão usando este processo, a primeira experiência correu lindamente excepto na altura de dar forma ao pão, que ficou com um ar esparramado, mas ainda assim muito saboroso.
Pelo caminho fui coleccionando emoções, de alegria ao ver as primeiras bolhinhas aparecerem no isco, de tristeza quando o isco de trigo azedou., de lágrima no olho ao chegar ao 5º dia com um isco que a mim me pareceu perfeito, é difícil pôr por palavras tudo o que senti ao longo dos vários dias, no dia em que amassei o pão estava nervosa, tinha medo que o pão não crescesse e que tivesse que recomeçar tudo do zero, parecia uma boba a controlar o crescimento de 5 em 5 minutos sabendo de antemão que ia demorar horas. Como já referi é um processo lento que exige muita entrega e bastante paciência que é totalmente compensada com o cheiro do pão a cozer e finalmente com o sabor único de um pão verdadeiramente artesanal.
Este foi o pão feito a partir do isco de centeio, não ficou exactamente como estava à espera, a massa "esparramou-se" quando foi para o forno.
No dia seguinte fiz outro pão com o isco de trigo, usando o mesmo processo e fazendo algumas correcções, mas com medo que ele se "esparramasse" de novo cozi-o na minha forma de barro para pão de forma e o aspecto melhorou consideravelmente.
Este segundo pão fez uma fermentação inicial de cerca de 3 horas à temperatura ambiente, com mais 12 horas no frigorifico, antes de o moldar.
Depois de o moldar e colocar na forma esteve mais 4 horas antes de ir para o forno.
Hoje não deixo uma receita, apenas as quantidades de ingredientes que usei como referência:
Para o pão mais escuro
Coloquei 350g de farinha de trigo T65, 150g de trigo sarraceno, 180g de isco de centeio integral, 8g de sal e 300g de água.
Para o pão de trigo
Coloquei 500 g de farinha de trigo T65, 180 g de isco de trigo, esqueci-me de pôr sal e diminui a água talvez em 50 g, pois o isco de trigo era mais líquido que o de centeio.
Ambos os pães ficaram com um sabor extraordinariamente bom.
Finalmente posso dizer que fiz um pão, o meu primeiro pão feito a partir de um isco criado e alimentado por mim ao longo de uma semana, foi uma enorme aventura, mas neste momento posso dizer que foi muito gratificante, faltam limar algumas arestas, aprender ainda muita coisa sobre farinhas, massas e formas de amassar, mas este foi o primeiro passo.