Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A minha amiga R. que é médica e está destacada nos Açores tem estado por cá estes dias, para ela fizemos hoje um jantar e o D. ficou encarregue da sobremesa, foi ela que me contou que este blog é muito apreciado pelas suas colegas da urgência do Hospital do Divino Espírito Santo, para elas um grande beijinho.
Entre os petiscos que foram feitos, no meio da maior das confusões, porque a minha cozinha é minúscula e todos querem ver e ajudar, desta vez eramos doze, mas na cozinha seis é uma multidão, destaco a morcela com mel, de que não há sequer uma foto, mas que ficou divinal apesar de fruto da invenção de última hora.
Para quem estiver interessado em provar, basta cortar uma morcela de assar em rodelas de cerca de 1 cm de espessura, colocá-los numa frigideira anti-aderente e deixá-la tostar um pouco de cada um dos lados, depois rega-se com um pouco de mel líquido, deixa-se ao lume apenas o suficiente para o mel começar a derreter e serve-se quente.
Mas vamos ao que interessa, a sobremesa, feita pelo marido seguindo escrupulosamente as indicações do Livro Doce da Nestlé e com a ajuda da R. a mexer o chocolate.
Quente e Frio de Chocolate
Ingredientes:
Preparação:
Derreter o chocolate com a manteiga, usei o micro-ondas 30 segundos, mexer com uma colher e voltar a colocar no micro-ondas mais 30 segundos, mexendo com uma colher até estar completamente homogéneo. Se preferir pode fazê-lo em banho-maria.
Bater os ovos com o leite condensado, adicionar a farinha continuando a mexer e por fim juntar o chocolate derretido.
Colocar a mistura em forminhas untadas e enfarinhadas e levar ao forno por 7 minutos a 200º. Servir morno.
Este doce é suposto ficar líquido por dentro, por isso não se admire quando tirar do forno e perceber que por baixo da capa que se forma por cima o doce está líquido.
Notas: Duplicamos a receita porque éramos muitos.
Já fizemos este doce mais vezes e uma das opções é fazer o doce, colocar nas formas e congelar, retirando as formas do congelador directamente para o forno quente a 200º e com um tempo de cozedura de 10 minutos em vez dos 7 indicados acima. Pessoalmente prefiro esta segunda opção, pois para além de podermos fazer com alguma antecedência o resultado final é muito melhor pois o doce fica quente por fora e frio por dentro.
Na receita mandam desenformar, no entanto cá em casa costumo servir nos próprios ramequins que foram ar forno.
O aspecto do doce não é extraordinário mas é muito saboroso. Pode servir-se polvilhado com açúcar e cacau em pó, simples, ou no caso de o desenformar também acompanha bem com uma bola de gelado de natas.
Poucas são as coisas me fazem mais feliz que um cesto de cerejas.
Hoje, depois de ler o post da Fer do Chucrute com Salsicha, a minha tarde tornou-se num desassossego, não conseguia pensar noutra coisa que não fossem as cerejas e no Clafoutis de Cereja da avó da Fanny que ela menciona no seu post, escusado será dizer que a palavra avó no título de uma receita exerce sobre mim um efeito avassalador, também me lembrei do Clafoutis de Cerejas que fiz no ano passado e assim se passou a tarde, saí do trabalho, sempre acompanhada pelos mesmos pensamentos, passei pela mercearia do meu bairro para comprar umas coisitas que me faltavam e eis que as vejo ao virar do corredor, acabadinhas de chegar e ainda sem preço de venda, naquele momento mesmo que elas custassem uma fortuna eu não hesitaria em trazê-las, o Clafoutis terá que ficar para outro dia, hoje vou-me deliciar com as cerejas na sua forma mais pura. As minhas primeiras cerejas do ano.
Este pão é dedicado a todos os amantes do pão e da cerveja, estava nos meus planos há muito, isto porque o pão cá em casa vai variando consoante a vontade da cozinheira, mas, como sempre, há projectos que vão sendo adiados em função de outros.
Hoje senti-me inspirada e o pão saiu finalmente do forno, num final de tarde que se tornou fresca e agradável e entretanto lembrei-me de um dos registos de viagem que ficou por mostrar e resolvi incluí-lo no post.
A cozinheira apanhada a fotografar um burro que para além de meigo como a generalidade destes bichos, se mostrou bastante fotogénico.
E algumas espigas de centeio.
Pão de Centeio com Cerveja Preta
Ingredientes:
Preparação:
Misturar todos os ingredientes secos, adicionar a cerveja e o kéfir e misturar até obter uma massa moldável e que se solta das paredes da taça.
Tapar com um pano e deixar levedar até dobrar de volume (+/- 1 hora)
Quando tiver levedado, retirar da taça e colocar sobre uma superfície enfarinhada, moldar o pão, humedecer a parte de cima, polvilhar com as sementes de sésamo pressionando um pouco, deixar crescer por mais meia hora a uma hora e levar a forno quente a 200º durante 30 minutos ou até o pão estar cozido. Batendo com a mão na parte de baixo do pão deve fazer um som oco.
Uma das coisas que mais aprecio na Primavera é poder acordar com o sol a entrar pelo quarto a ouvir o chilrear dos passarinhos e passear pelo campo.
Da semana que andei pelo norte recordo os campos cobertos por um manto de pequenas flores salpicado de lilás, rosa, azul, branco e amarelo.
As temperaturas, tal como agora estavam amenas e convidativas ao descanso e ao passeio, foi o que fizemos.
Comi coisas novas, outras já minhas conhecidas, lembrei-me da Neide do Come-se e da Rute do Publicar para Partilhar.
A primeira porque é conhecedora de quase tudo o que se come e adoraria ter feito este passeio pelo campo comigo, a segunda porque tem como lema na vida a partilha e tal como eu ama a natureza.
E é isso que hoje vou fazer, partilhar convosco duas delícias que se comem, daquelas que não se vendem nos supermercados, nem se cultivam nas hortas, a primeira chama-se Merujas ou Regajo (leia-se Regarro), o seu sabor é delicado e muito agradável e faz uma das melhores saladas que alguma vez provei, leva apenas um pouco de cebola nova e tempera-se com sal, azeite e vinagre.
A segunda dá pelo nome de Norsa, planta trepadeira comestível que cresce junto às sebes que dividem os campos, na zona de Travanca no nordeste transmontano. O seu sabor fica algures entre o sabor dos espargos e o sabor dos grelos de nabo, apanham-se apenas os rebentos ou pontas, retiram-se as guias e utilizam-se da mesma forma que os espargos, simples, salteadas com azeite e alho ou misturam-se numa tortilha com ovos.
Ao provar estas iguarias, estranhas para os citadinos, recordei o esparregado de urtigas que a minha mãe costumava fazer, e também o de rama de cenoura e deu-me uma enorme vontade de um dia me mudar para o campo deixando-me levar por um sonho antigo.
Mostro-vos ainda um verdadeiro pão transmontano, cujo tamanho seria impensável para vender numa cidade.
E para finalizar estes relatos de viagem, comi um Botelo com Cascas, cozinhado lentamente numa linda panela de ferro. Para quem não sabe o Botelo é feito da mesma forma que o salpicão mas leva carne com ossos, as cascas, são as vagens de feijão que são apanhadas ainda verdes, mas quando o feijão já está completamente formado, as vagens são então secas e posteriormente hidratadas como se faz usualmente com o feijão, para depois serem cozidas (vagens e feijão), este cozinhado tinha ainda uma outra coisa que eu adoro, presunto cozido, que é uma iguaria e tanto. Não tive oportunidade de vos fotografar nem o botelo, nem as cascas, ficará para uma próxima oportunidade, mas dá para ver como foi cozinhado.
Penha Garcia fica na encosta da Serra com o mesmo nome na margem direita do Rio Pônsul, foi povoada no neolítico, foi castro lusitano e por lá também passaram os Romanos.
O seu castelo foi edificado, sobre um castro Romano, pelos Templários e dele ainda restam algumas muralhas em bom estado de conservação, lá em cima a vista é deslumbrante e impossível de descrever por palavras, no vale temos ao longo do rio inúmeros moinhos azenha
Ao fazermos o percurso pedestre que desce do castelo até à barragem a boca abre-se de espanto, quando entramos pelos caminhos junto ao rio, é que nas fragas de Penha Garcia de rocha quartzítica, encontram-se a céu aberto, inúmeros fósseis marinhos, a maioria deles são rastos de trilobites, um dos seres que habitou o fundo dos mares há mais de 490 milhões de anos atrás
Depois de há uns anos atrás ter visitado as gravuras do Vale do Côa e ter ficado fascinada, para quem não sabe eu sou uma aficionada nesta matéria, ao visitar o parque geológico de Penha Garcia, senti um arrepiozinho na espinha ao perceber logo pelo caminho que a meus pés gravados na pedra estavam milhões de anos de história.
Aos rastos das trilobites visíveis nas fotos acima chamam-se Cruzianas, embora sejam conhecidos pelo povo como cobras pintadas.
Fizemos o percurso pela manhã de uma sexta-feira, dia de trabalho para o comum cidadão, não havia mais ninguém por lá, por isso a visita guiada foi feita em exclusivo para nós por um vigilante que era de uma enorme simpatia e cujo nome imperdoavelmente não perguntei.
Dos vários moinhos-azenha, alguns foram restaurados e estão prontos a funcionar para deleite dos visitantes mostrando como era moído o grão que se transforma em farinha e que fazia os pães da zona que ainda hoje são muito afamados. Intactas estão ainda as casas dos moleiros com os diversos utensílios necessários para o seu dia-a-dia.
O percurso pedestre tem cerca de 3 km e far-se-ia numa hora, não fosse eu parar a cada 5 minutos para apreciar cada pequeno pormenor, o vale ao longo do rio Pônsul é muito bonito e sentimo-nos em directa comunhão com a natureza, apetece ficar por ali a preguiçar mais umas umas horas, mas temos que seguir viagem.
E para homenagear esta bela região e o trabalho dos moleiros, nada melhor que um pão, não é o de Penha Garcia, cuja receita desconheço, mas um pão à minha maneira.
Pão de Trigo e Cevada
Ingredientes:
Preparação:
Numa taça colocar as farinhas, o sal e o fermento, adicionar a água, amassar e deixar fermentar durante cerca de uma hora em local abrigado, ou até que a massa dobre de volume.
Com as mãos enfarinhadas dar forma ao pão e deixar de novo a fermentar, pincelar com água, polvilhar com as sementes de linhaça, fazer uns golpes ao longo do comprimento do pão e levar ao forno quente por cerca de 30 minutos ou até estar cozido.
Nota: A farinha de cevada compra-se em lojas de produtos naturais tal como as sementes de linhaça.