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E se de repente o marido disser que vai jantar sushi com os amigos. O que fazer para o Jantar?
Sei que a maioria responderá que come qualquer coisa e já está.
Como para mim qualquer coisa, não é nada resolvi fazer umas favas guisadas, e já está.
Depois da sopa ainda sobraram favas, eram tão fresquinhas que seria um crime congelá-las, e como a temporada é curta, porque não aproveitá-la, é assim que vamos de novo à fava enquanto a ervilha não chega.
Da receita não há muito a dizer, quem a faz como ninguém é a minha sogra, por isso telefonei-lhe e pedi instruções e ela explicou-me tudo, tim tim por tim tim. O segredo, é não pôr água nenhuma, mas se quiseres podes refrescar com uns borrifos de vinho branco, as favas cozem com o vapor e a gordura das carnes. Ah! E não te esqueças, muitos coentros.
E quantidades? Ao que me responde: Tu vês mais ou menos, pões uma camadinha de favas depois de chouriços, como é só para os dois (pensava ela) não vale a pena pores entrecosto, e acabas com uma última camadinha de favas.
Lá fui lampeira para a cozinha enquanto ele saia para o sushi sem sonhar o que seria o meu jantar.
Favas Guisadas com Chouriço
Coloquei um tacho de ferro ao lume, deitei-lhe um fio de azeite, uma cebola, um dente de alho picado e uns pedaços de bacon, deixei refogar um pouco, enquanto cortava um pouco de chouriço de carne e uma moira (chouriço próprio para as favas).
Depois borrifei com o vinho branco, não chegou a um cálice, coloquei tudo em camadas conforme recomendado, um pouco de sal e alguns coentros picados, coloquei a tampa e deixei o fogão no mínimo.
De vez em quando e resistindo estoicamente a não abrir a tampa para não deixar sair o vapor pegava nas asas da panela e balançava-a de modo a que os sabores se misturassem, não sei exactamente quanto tempo passou, perdi-me a ler um livro sobre o pão em Portugal, quando voltei à cozinha mais uma vez pareceu-me ouvir um som estranho vindo do fundo do tacho, sinal que algo poderia não estar a correr bem, as favas ainda não estavam completamente cozidas e o fundo estava a começar a pegar, fugi da tentação de pôr água, ou qualquer outro líquido, desliguei o lume, voltei a pôr a tampa, abafei o tacho com uma toalha e voltei para a sala descansada.
Preparei a máquina fotográfica e vinte minutos depois regressei para fotografar e jantar.
Posso dizer-vos que foi uma aventura, cozinhar sem água parecia-me impossível, mas no final, que mais posso dizer-vos senão que valeu a pena? Foi mais ou menos como ter ficado o ano todo à espera da mulher da fava rica.
Notas: Fazer coisas a olho dá sempre muito mais do que imaginamos, claro que sobraram favas com chouriço para amanhã, e de certeza que estarão muito melhores como acontece com todos os guisados.
Como referência, posso dizer que usei cerca de 700 g de favas, 100 g de bacon, 1 moira, 1/2 chouriço, duas colheres de sopa de azeite, uma cebola média e um dente de alho, o sal claro, é a gosto não esquecendo que quer o bacon, quer os chouriços já são salgados.
Estas quantidades dão para 2 a 3 pessoas, conforme sejam mais ou menos comilões.
Expressões "como vai à fava", "são favas contadas" ou "até vir a mulher da fava rica" são comuns entre os Lisboetas e um pouco por todo o país, todas elas têm uma conotação positiva, e mesmo apesar de muitos não gostarem de favas, elas são uma das leguminosas mais apreciadas desde a antiguidade até aos dias de hoje.
"São favas contadas" diz-se de algo que já está ganho, "Vai à fava" ao contrário do que parece não é negativo, a expressão completa é "Vai à fava enquanto a ervilha não chega" o que significa sem sombra para dúvidas: aproveita enquanto é tempo!
Já "até vir a mulher da fava rica" é uma das minha favoritas, por estar associada às histórias da minha avó, que apesar de não ser Lisboeta, viveu a maior parte da sua vida em Lisboa, foi ela que me contou a maioria das histórias de Lisboa que ainda consigo guardar na memória.
No início do século passado um dos muitos pregões que ecoavam pelas ruas de Lisboa era "Olhaaaa a fava-ricaaaaaaaaaaa!"
Fava rica era a fava que depois de seca era cozida e refogada em azeite, alho e pimenta. Era apregoada e vendida pelas ruas de Lisboa e ao que parece era um petisco muito apreciado que tanto podia servir de base de uma sopa como a que hoje vos trago ou ser simplesmente servido com uma fatia de pão saloio.
O mais curioso para mim nesta sopa, que é a sopa de fava da minha mãe, é que ela sempre a fez assim e não gosta de favas.
Sopa Aveludada de Favas (para 2 pessoas)
Ingredientes:
Preparação:
Leve um tacho ao lume com todos os ingredientes descascados e cortados em pedacinhos, excepto os coentros, tempera-se com sal e uma colher de sopa de azeite, quanto estiver cozido tritura-se, polvilha-se com os coentros picados e serve-se quente.
Nota Importante: Tem que se descascar a fava e depois retirar a película que envolve a fava em si, caso contrário a sopa não ficará aveludada e terá uma cor castanha. Habitualmente descasco para a sopa as favas que se apresentam com um "olho" preto cuja casca é mais rija conforme foto acima. Também pode adicionar à sopa no final umas tirinhas de bacon frito ou pão torrado, eu prefiro assim simples só com coentros.
Para quem estiver interessado a tigela e o prato de barro são de Reguengos de Monsaraz, Alentejo.
Hoje, o meu post, é dedicado a uma Princesa que vive no Reino da Prússia e para quem as palavras não têm segredos. Quando me cruzei pela primeira vez com o seu Blog fiquei de imediato fascinada com a escrita e basta passar os olhos pelas suas páginas para perceber porquê.
No Reino da Prússia, as receitas, apesar de deliciosas são secundárias, porque é nas suas palavras que reside a essência do blog e vocês sabem como eu gosto de histórias.
Esta receita vai também para passatempo do Delícias e Talentos, Cozinhar com Laranja.
A escolha recaiu num Bolo de Laranja, não é que eu não tenha receitas de bolos de laranja, de facto tenho pelo menos três, mas quando li o título, tinha aquela palavrinha mágica "avó" que carrega consigo toda uma enorme carga emocional atrás, afinal quem não tem uma receita da avó que nos enche de saudades e boas recordações ?
Apresento-vos Dª Laranja e suas flores, e a forma da minha avó retirada do baú das recordações.
Bolo de Laranja
Ingredientes:
Preparação:
Bater as claras em castelo, adicionar o açúcar e as gemas uma a uma. Juntar o óleo, o sumo e a raspa de laranja e por fim envolver a farinha com o fermento.
Vai ao forno a 150º em forma untada e enfarinhada durante cerca de 40 minutos ou até estar cozido.
Notas: Este é um bolo que fica muito fofo, parece quase um pão de ló de laranja.
Parece-me perfeito para fazer numa forma sem buraco para poder rechear e já estou a imaginá-lo coberto de chocolate numa das próximas festas de aniversário.
Desde o Natal que tinha em casa uma máquina para estender a massa fresca e ainda não tinha tido coragem para a usar porque pensava que era um processo difícil e moroso. Para ser sincera é um pouco moroso, mas acaba por ser uma tarefa muito divertida para fazer em família, ou com amigos como foi o caso.
A amiga que me ofereceu a máquina, disse-me que gostava de fazer um jantar lá em casa com massa fresca, e foi assim que na sexta-feira combinamos o jantar para o dia seguinte, saí de casa no sábado ao final da tarde, dentro da alcofa iam os utensílios para fazer a massa e passamos o serão na aventura da massa fresca, foi uma diversão em casa da I. e do F., havia farinha por todo o lado, ops! Acho que para a próxima tenho que ter um bocadito mais de cuidado.
A receita encontrei-a no Sabores de Canela, e apenas sofreu pequeníssimas alterações.
Por experimentar ficou a massa verde, com espinafres, que fica para uma próxima vez, quem sabe para uma lasanha.
Massa Fresca
Ingredientes
Massa base
Preparação
Massa Base:
Coloque a farinha na bancada, faça um buraco no meio, coloque os ovos e o sal e trabalhe a massa até obter uma massa homogénia que não se cola nem aos dedos nem à bancada.
Embrulhe a massa em película aderente para não secar e guarde por 30 minutos até fazer a massa.
Polvilhe com farinha a bancada onde vai trabalhar e a massa também sempre que comece a colar.
Divida a bola em 2 e introduza uma delas na máquina, passando pelo rolo na posição mais espessa (maior abertura) pelo menos 6 vezes, dobrando sempre a massa.
Só depois desta operação deve ir reduzindo até à espessura pretendida , no final escolha então o formato.
Polvilhe a massa já feita com farinha de milho para não colar.
Pode consumir de imediato, tendo em atenção que o tempo de cozedura são 3 minutos.
Massa Laranja:
Proceda de igual forma que a anterior.
Notas: A massa base serviu para fazer uns raviólis de abóbora que saíram saborosos, mas que por inexperiência desta cozinheira pareciam gigantescas almofadas, terão por isso que ser repetidos outra vez.
A proporção para a receita de massa base é de um ovo para cada 100 g de farinha
A outra massa foi servida com dois molhos diferentes, molho de tomate e molho de cogumelos e nozes, inventado à última hora e que foi feito da seguinte maneira, alourei uns quadradinhos de bacon e um dente de alho numa colher de sopa de azeite, adicionei os cogumelos frescos e temperei com sal e pimenta, deixei cozinhar em lume forte até evaporar todos os líquidos, por fim juntei 4 ou 5 nozes picadas e um pacote de natas ligeiras, dá-se uma mexedela e serve-se de seguida bem quente.
Entre Portugal e o Brasil existem muitas semelhanças, mas também muitas diferenças, e desde que comecei o Tertúlia que tenho aprendido imenso com os blogs do outro lado do Atlântico.
Na altura de cozinhar, Torta vira Rocambole, Tarte vira Torta, o mesmo gosto a mesma doçura mas nomes diferentes.
Entretanto lembrei-me de uma receita portuguesa bem antiga, o nome é igual a uma outra receita do Brasil, embora diferentes entre si um dos pontos em comum é o nome.
Para acabar com o mistério, estou a falar de Fricassé, o mais tradicional é o de frango, mas pode-se fazer fricassé de quase tudo, o segredo do fricassé português está no molho bem cremoso, feito à base de gemas de ovo, com o leve travo ácido do limão, ambos obrigatórios na sua confecção.
Este é um dos clássicos cá de casa, a receita não tem grandes segredos, embora se deva ter algum cuidado na hora de completar o molho para não talhar.
Frango de Fricassé
Ingredientes:
Preparação:
Aloura-se o frango no azeite quente, junta-se a cebola bem picadinha, o sal, a pimenta, o colorau, um copo de vinho branco e deixa-se cozinhar em lume brando, acrescentando um pouco de água se virmos que começa a ficar muito seco.
Entretanto misturar as gemas com a salsa picada e o sumo de limão.
Quando o frango estiver cozido, retira-se do tacho.
Adicionam-se as gemas com o limão e a salsas ao restante molho do frango e leva-se de novo ao lume, mexendo sempre para engrossar.
Nesta última fase é necessário ter cuidado para o molho não talhar.
Nota: Se por acaso o molho talhar, tritura-se com a varinha mágica e leva-se de novo ao lume com uma colherzinha de amido de milho para ligar.