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Estamos no final do mês e esta será provávelmente a minha última convidada, pois não sei se a Glau do Quintandoca regressa de férias ainda a tempo de participar.
De todas as minhas convidadas especiais deste ano, esta é a única que tenho o prazer de conhecer pessoalmente, fez este mês um ano que a Neide passou por Lisboa e que almoçámos no Tentações de Goa.
O Come-se é diferente do comum blog de culinária, deixa a léguas qualquer caderninho de receitas pois é uma preciosa fonte de conhecimento, por lá se conversa de tudo o que se come no verdadeiro sentido da palavra, desde flores, frutos estranhos, ervas e até larvas.
Mas não comece já a torcer o nariz, esqueça a parte das larvas e concentre-se por exemplo nos pães, ela tem pães fantásticos, e também genuína comidinha brasileira.
O meu convite para a Neide perdeu-se nas teias da grande rede e quando insisti já estávamos quase no final de Novembro foi assim que a Neide acabou enviando um pão muito gostoso que tinha publicado faz tempo e que na realidade combina mesmo bem comigo.
Neide muito obrigada por ter aceite o meu convite, esta festa não seria a mesma sem o seu contributo.
"Queria ter tido tempo para desenvolver alguma coisa bem especial para o Tertúlias, mas nem tudo é como a gente quer. E espero que goste deste pão de batata-doce. Envio esta, não só porque é fácil de fazer, mas porque é delicioso e tem esta cor rosa linda, que combina com você e com seu blog. Muito sucesso, parabéns pela dedicação e um grande beijo da amiga deste lado do Oceano.
Sobre a Batata Doce
A planta: Que ninguém pense que é a batata-doce seja parente das batatas. A Ipomoea batatas L. pertence à família Convulvolaceae e é originária da América do Sul e América Central. No Peru, foram encontrados resíduos desta espécie em cavernas no Vale de Chilca Canyon, datadas de mais de dez mil anos. Hoje é encontrada em várias partes do mundo. No Brasil, pode ser encontrada em todas as regiões, porém, está mais presente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, na região Sul, e Pernambuco e Paraíba, na região Nordeste. Por aqui não é hábito consumirem as folhas, mas elas também podem ser preparadas como hortaliças, como acontece na China, por exemplo. Aliás, deliciosas feitas como espinafre.
Digestão: Este é um dos fatores que faz com que batata doce seja considerada comida de pobre, cultivada apenas por pequenos agricultores (tanto que não é um produto de exportação, por exemplo). Eu mesma já senti na pele ou no estômago os efeitos da má digestão, mas só por causa do exagero. No dia de matança de porco no sítio dos meus avós um grande tacho de água fervente ficava à disposição dos homens e mulheres que lidavam com o bicho. Enquanto a água não era usada, iam-se colocando ali batatas doces. Sem que nenhum adulto se desse conta do apetite voraz, a criança Neide foi cozinhando e comendo batata-doce o dia inteiro. E como camela, nada de água. Brincava um pouco, disfarçava, corria até o tacho pra conferir seu petisco e saia correndo com batata quente lhe queimando as mãos. Não almoçou, não jantou, só na batata-doce cozida bem quente, bem docinha. Na hora de dormir foi um sufoco, me lembro como ontem. Aquela massa não descia nem subia, fermentou, inchou, senti que iria morrer, até que minha avó, depois de várias tentativas, providenciou a poção certa além do dedo na garganta para que eu descomesse uma massaroca desconfortável. O bom foi que não traumatizei. No outro dia já estava boa pros torresmos. E batata-doce, sempre, mas nunca mais com exagero. É que há na batata um inibidor de digestão que atrapalha o trabalho das enzinas digestivas tripsina e quimiotripsina, retardando o fluxo, induzindo à fermentação e à formação de gases. Deu no que deu. Mas, em combinação com o trigo no pão, este efeito não se nota. E o pão fica lindo e gostoso, embora o sabor da batata apareça com muita discrição. Usei a mesma receita que venho usando nos últimos dias (pão de cará, pão de taro, pão de mandioca, pão de batata-doce), com modificações insignificantes - apenas em relação ao sal e ao açúcar.
Pão de Batata-Doce Roxa
Uma foto do nosso encontro em Lisboa, para matar a saudade.
Foto gentilmente cedida pela Neide do Blog Come-se
(clique em cima da foto para aceder à postagem do nosso encontro)